sexta-feira, 15 de abril de 2011

E assim caminha a humanidade…(?)

Inspirada na queria amiga Betty e nos meus momentos emos, resolvi escrever um post sobre a as relações humanas quando se vive fora do país.
Bem, certo dia, uma amiga que conheci aqui no Japão veio fazer uma visita a Osaka e enquanto conversávamos, ela me disse uma frase que hoje eu entendo completamente. “Aqui no Japão você faz mais amigos por conveniencia do que por afinidade”. Quando ela falou isso me questionei bastante, por que até aquele momento, a vida no Japão não me mostrava ser tão complicada. Eu andava sempre com o grupo de brasileiros e sempre estávamos juntos, o máximo de tempo possível.
 Hoje a situação mudou um pouco, digamos. Alguns desses amigos não se falam e as vezes tenho que escolher com que vou sair pois, nunca podemos sair todos juntos. E confesso que fico um pouco triste com isso, pois eu gostaria que todos pudessem estar juntos de novo!  E isso é mais comum do que se pensa, pois já vi outros casos semelhantes por aqui.
 Eu realmente me questionei o por quê das coisas serem assim. Então me lembrei de outra frase que essa mesma amiga me disse. E parando para pensar faz todo o sentido. Quando você chega a um lugar totalmente desconhecido, a sua tendência e se unir a pessoas que você julga terem algo em comum com você, como a cultura e língua. Por isso, você vê muitos grupos de pessoas de mesma nacionalidades: grupos dos coreanos, grupo dos tailandeses, grupo do brasileiros.... Não digo que não há interação entre grupos, porque existem pessoas que têm fortes laços de amizade e são de culturas completamente diferentes. Entretanto no começo é assim, todos alegres e contentes, mas depois a história muda de figura. As pessoas começam a se fechar e modificar hábitos (ou seria melhor dizer, mostrar realmente como são?) e assim mostram-se as divergências e amizades começam a enfraquecer. Lembro-me, inclusive que a minha amiga disse “talvez se você conhecesse as mesmas pessoas no Brasil, em outra situação, você não seria amigas delas”. Sad, but true. Mas felizmente eu encontrei boas pessoas por aqui e tento preservar a amizade que criei. 
Nesse momento, quando as coisas começam a virar de ponta a cabeça é que as maiores crises existênciais começam. O Japão é um lugar lindo, mas as relações pessoais não são o ponto forte da cultura. A hierarquia é a palavra-chave da sociedade japonesa. No país do –san, -kun e –chan fazer amigos é uma tarefa difícil. Primeiro porque os japas são ressabiados com estrangeiros. Realmente os gaijins (termo em japonês para estrangeiros) não têm um boa fama por aqui. Crianças nos vêem como E.T.s e ouso dizer até alguns adultos também. Basta fazer um teste simples, entre em um trem lotado comece a conversar com outro estrangeiro e repare nas caras dos japas falando de você ou entanto descobrir de onde você veio. Eles são respeitosos, isso nunca pode-se negar, mas as vezes acho que esse respeito beira a impessoalidade.
Quando se fala em trabalho então, ai que as relações são as mais restritas possíveis. Um japonês em ambiente de trabalho não é o mesmo fora do trabalho. Brincadeiras, conversas descontraídas não são comuns quando se está trabalhando.  Conquistar a confiança de um japonês pode ser tão trabalhoso quanto construir uma casa. Porque, sinceramente, você deve passo a passo demonstrar que você realmente quer desenvolver laços de amizade com eles. E as vezes isso pode ser tão complicado que alguns desistem. Isso faz com que você se sinta solitário (digo isso por experiência própria). 
Meu ambiente de trabalho aqui é totalmente diferente do Brasil. É comum eu entrar no laboratório e dizer “Ohayogozaimasu” (bom dia) e depois disso apenas “sayonara” (tchau). As vezes acho que esqueço até da minha voz quando venho trabalhar.
Lembro-me do Brasil, que enquanto um experimento estava acontecendo, fazíamos uma roda e ficávamos conversando porcarias (saudades do Ludo, Betty, Simon, Mi e Aline). O dia assim passava tão rápido e o trabalho era tão prazeroso, que não me importava em gastar minhas noites e finais de semana no laboratório. Já aqui, as vezes me sinto como uma intrusa, apenas ocupando um espaço. Tem dias que nem sinto vontade de vir trabalhar.
   Sei bem que mesmo com a solidão e reclamações, tudo está sendo uma grande experiência. Morar sozinha tem sido bem revelador. É um grande passo que me mostrou quanto as minimas coisas são importantes. Por exemplo, eu nunca me preocupa em fazer compras, lavar roupas, fazer faxina... Agora tenho que conciliar tudo isso com os meus horários loucos no laboratório. Isso é até bem legal, pois sinto liberdade de fazer as coisas do meu jeito, no meu tempo. O crescimento pessoal é maravilhoso, mas a saudade não é uma companheira agradável. Termino esse post como um trecho da musica do Legião Urbana que se encaixa bem nesse pots:

“Mas não, não vá agora, quero honras e promessas, lembranças e histórias...Somos passaro novo longe do ninho...”
                             (Renato Russo)  


E uma previa do proximo post... Ohanami (ato de observar as cerejeiras).


4 comentários:

  1. Carols, eu não conseguiria retratar melhor o "ser estrangeiro", "foreing" ou "gaijin"... Abraço virtual, mas cheio de saudade pra vc!

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  2. Carol vc falando assim me fez lembrar do tempo que estava em Brasília... sei q vai parecer estranho, mas foi exatamente assim que me sentia...
    Vc vai aprender coisas boas e já está; e sei que vai conhecer pessoas legais pra sempre que vão te ajudar a ficar melhor!
    Sei q nos conhecemos a pouco tempo mas tenho um carinho especial por ti...
    bjinhos!

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  3. É solidão é bom também para avaliar o que é importante o que de verdade faz falta. Espero que você tenha sorte aí no Japão em relação as amizades. Amizades sempre são relações de interesse mesmo, o nosso grupo era ligado por conta de leituras comuns e gostos musicais. Saudade do que foi bom e claro da senhorita. Acredito que viagem para quem é ligado aos amigos e família sempre é complicada. Bom, o lucro é que essa experiência só vai agregar valores e conhecimento na sua vida.
    bjs
    Flee :)

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  4. É, Carol... Dentro da minha bolha Brasil, as coisas também pareciam mais simples. E é mesmo impressionante como as coisas acontecem quando estamos sozinhos e longe de casa.

    Concordo plenamente com o que você disse, conforme as pessoas vão ganhando liberdade e independência (coisa q ñ temos confiança suficiente de tentar no início), suas verdadeiras personalidades vão aparecendo. É mesmo triste pensar que as semelhanças que eram muito fortes no nosso grupo passaram a ser, na verdade, o fator mais forte de separação. E nem as várias tentativas foram suficientes para suprimir isso. Hoje procuro não pensar muito nisso pq realmente me perturba e entristece lembrar de como era legal e acabou.

    Mas agradeço a Deus todos os dias por você ter vindo aqui para Osaka, viu mocinha? Pq, em você, eu vejo sim uma menina doce e uma pessoa que eu faria amizade em qualquer situação. Além das coisas que combinamos e descobrimos combinar de vez em quando, me sinto muito tranquila conversando com você e abrindo meu coração. Agradeço à senhorita também, por ser essa pessoa linda.

    O Japão não é rapadura, mas não é mole não. Pra todo mundo que tá aqui, às vezes até para os próprios japoneses. A solidão é um resultado cruel, mas esperado, no meio dessa doideira de cultura... Vamos levando.

    Beijo!

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