sexta-feira, 15 de junho de 2012

O que é ser estrangeiro no Japão?!

   Bem, decidi fazer esse post depois de refletir um pouco e passar por algumas coisas aqui.

  De acordo com o dicionário, estrangeiro é uma pessoa de outra nacionalidade, de outro país. Até ai, nenhuma novidade, mas como é, realmente, se sentir um estrangeiro?! Bem, isso só se sabe quando se mora fora de seu país.


  No Brasil, somos muito receptivos aos estrangeiros, pelo menos na minha maneira de ver. Sim, temos aquela curiosidade quando ouvimos outra língua ou vemos uma pessoa de fenótipo carcterístico de estranegiro, como por exemplo, pessoas muito brancas e loiras. Mas nada disso se torna algo estranho ou preconceituoso. E tem como ser de maneira diferente, morando em um país que não tem uma “cara” característica? Que é formado pela mistura de vários povos?! Bem, nesse ponto, digo que o Brasil é um país muito bom.


  No entanto, no Japão as coisas são bem diferentes. Como todos aqui tem o fenótipo asiáticos, qualquer pessoa que não tenha os olhos puxados e cabelo escorrido, chama bastante atenção. E digo isso por experiência própria.
  Muitas vezes, ao entrar no trem, em uma loja ou simplesmente ao andar na rua, sinto os olhares curiosos dos japoneses a minha volta. Alguns deles cochicham, tentando adivinhar de onde sou, outros olham surpresos, como seu eu fosse um E.T. e, existem ainda, outros que me olham com olhar recriminador. É, isso acontece também, por mais estranho que pareça, existem japoneses que não gostam de estrangeiros e deixam bem claro isso. E você pode se perguntar o porquê desse sentimento... Ai eu respondo: eu também gostaria de saber. As vezes reflito muito sobre isso, pois não é como se um indiano, por exemplo, fosse algo tão absurdo que merecesse ser olhado com tanta curiosidade ou desconfiança. Não somos todos humanos, com dois olhos, uma cabeça e um coração?! Todos nós não sofremos, sentimos dor, tristeza e alegria?! Por que achar tão estranha uma pessoa que não tem os olhos puxados ou o mesmo tom de pele que o seu?!
  Um ponto engraçado sobre essa curiosidade são as crianças. Foram várias as vezes que percebi crianças me encarando, curiosas ou admiradas. Algumas delas chegavam a apontar para mim e dizer “olha, uma gaijin (termo em japonês para estrangeiro – 外国人- がいこくじ - ou melhor gaikokujin, o termo mais formal). Também aconteceram casos de japonese que decidiram conversar conversar comigo, para saber da minha história, de onde eu era... Recebi presentes, como doces e belos sorrisos. No entanto, algumas experiências ruins também marcaram a minha vida.
  Mas nem todos são tão amistosos. O último episódio de preconceito contra estrangeiros que sofri foi a duas semanas atrás. Estávamos entre amigos e voltando de um aniversário. Quando fomos pegar o trem, um japonês bêbado veio em nossa direção. Decidimos ignorar a tal pessoa. Ele não ficou satisfeito conosco e começou a falar palavrões para nós e gritar na plataforma “Estrangeiros! Estrangeiros!”.  Como se fossemos animais exóticos. Ele, inclusive, tentou nos intimidar, mas acabamos o ignorando e ele nos deixou em paz. Mas a noite ainda nos reservava outra surpresa (desagradável). Assim que chegamos ao nosso ponto final, decidimos pegar um táxi para voltar para casa. Enquanto esperávamos o mesmo, um senhor, de cerca de 40 anos, começou a se incomodar com a nossa presença. Estávamos rindo e conversando e ele começou a reclamar, em japonês, sobre nós. Veja bem, não estávamos fazendo nada de mais, apenas conversando e ele se achou no direito de reclamar porque estávamos lá. Fingimos não entender nada e continuamos conversando, normalmente. Assim que nosso táxi chegou, ele começou a falar em tom alto e bravo “vão embora”! Me senti muito mal com aquilo. Poxa, ele acha que só porque eu não estou no meu país ele é melhor do que eu?! Eu não estava fazendo nada para incomodá-lo!
  
   Bem, esses são pequenos exemplos do que vivi. No entanto, inúmeras são as histórias de amigos que passaram situações semelhantes ou até piores. Faço esse post como uma forma de desabafo e até de alerta para quem tem esse “fanatismo” pelo Japão. De uns tempos para cá, tenho ouvido e lido muitas pessoas exaltando o Japão e outros países como melhores que o Brasil. É como dizem, a grama do vizinho sempre é mais verde. Ou seja, qualquer lugar que não seja o Brasil é melhor. Isso não é verdade. Sei que não tenho tanta experiência em morar fora, visto que só vivi no Japão. Reconheço que nosso país é cheio de defeitos e tem muito a melhorar, mas eu não troco o Brasil por nenhum lugar desse mundo!
   O Japão, com certeza, é um lugar ótimo para se viver. Tem segurança e saúde acessível, mas também tem problemas como qualquer outro país. Tem corupção, drogas e  mortes, em proporções menores, mas isso tudo ainda existe. Por isso, engana-se quem acha que vai chegar aqui e tudo será um mar de rosas, perfeito. Além de todos esses problemas comuns a todas as sociedades, o fato de você ser estrangeiros complica mais a situação. Por mais que se saiba falar japonês e/ou sejam descendentes, todos sofrem preconceito. E digo isso, porque acho que a sociedade japonesa é pouco inclusiva. Perdoe-me se alguém se sentir um pouco ofendido com esse post, mas falo apenas do que vivi, não de histórias contadas por terceiros e devaneios.
Enfim, não querendo ser cheia de demagogia, mas acho que devemos aprender a ver mais o lado positivo das coisas. Aprender a apreceiar mais o nosso país e a forma como vivemos nele, ao invés de apenas reclamar e achar que tudo é uma droga! Não entendam esse post como algo ruim, mas acho que sempre devemos saber os dois lados da moeda. E nem só de mangás, animes e música se vive no Japão.  E qualquer pessoa que decida viver aqui ou em qualquer outro país, deve se preparar para passar por esse tipo de coisa. Como disse, por viver no Japão, eu falo do que passo aqui.
  Bem, termino esse post com o artigo de um professor, estrangeiro, para o Japan Times. É engraçado que eu decidi falar sobre a visão dos japoneses sobre os estrangeiros e ter esse post no Japan Times. Ele descreve bem a forma de alienação dos japonese para o “mundo exterior”, principalmente por parte da juventude. Leiam, é bem interessante.