quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Transporte


Mais um post falando sobre o cotidiano do Japão. Acho que em alguns post comentei sobre o transporte aqui, mas nunca cheguei a me ater a muitos detalhes... Então vamos lá.
               O transporte aqui é muito bem organizado (ao contrário do Brasil). Aqui, ônibus e trens tem hora marcada para sair. Isso é tão rígido que se, por algum infortunio,  ocorre um atraso, os motoristas/maquinistas são obrigados a pedir desculpas.  Inclusive, existem aplicativos para smartphone que fornecem a hora exata dos trem e ônibus. Antes de vir para cá, era impensável um ônibus ser tão pontual. Em Brasília, já aconteceu de eu ficar uma hora no ponto de ônibus esperando e não aparecer um ônibus se quer para eu ir para casa.
               Bem, aqui vão algumas curiosidades sobre os dois meios de transporte:

    1)  Ônibus

   Em Osaka, você entra pela porta de trás do ônibus e sai pela frente. O pagamento é feito quando você sai, pois em alguns casos, a tarifa do ônibus é dependente da distância que você percorre.  Ao lado do motorista existe uma máquina em que você deve depositar o dinheiro, no momento em que você sai do ônibus. Essa mesma máquina realiza a troca do dinheiro, caso você não tenha a quantia certa, e ainda é equipada com um sensor para cartões (caso deseje, você pode adquirir um cartão pós ou pré-pago que pode ser usado em trens e ônibus).
   Já em Tokyo, o processo é inverso, entra-se pela frente e a saída é no fundo do ônibus. Sendo assim, o pagamento também deve ser feito no momento da entrada.
    Todos os ônibus são equipados com letreiros e telas, que fornecem algumas informações, como a tarifa que deve ser paga (de acordo com o ponto que você subiu e aonde você pretende descer) e o  trajeto que o ônibus vai percorrer.
    As tabelas de horários variam um pouco de acordo com os dias da semana, em que sábados, domingos e feriados, os intervalos entre os ônibus são um pouco maiores. Em dias de semana, por exemplo, o últmo ônibus que circula é 12:08 pm; no sábado passa a ser 11:08 pm e no domingo 10:08 pm.   
   
                       2)  Tranporte ferroviário

No Japão, podemos dizer, que existem quatro  “tipos” de transporte ferroviário: metrô, trem, o trem bala e o monorail. Bem, essa é minha forma de ver e não que seja uma classificação bem realística. Com relação ao trens (densha – でんしゃ電車),  em Osaka temos a JR (Japan Railway – pública) e as companhia privadas como Hankyu, Hanshin e Keihan. Já o metrô (tikatestsu – ちかてつ - 地下鉄) possui várias linhas distintas e companhias responsáveis por elas (na verdade nem sei bem que companhias são responsáveis pelo metrô de Osaka).   Em ambos os meios, você paga a tarifa correspondente ao trecho percorrido também.

Mapa das linhas de trem de Osaka.

O trem bala (shinkansen – 新幹線 - しんかんせん) é uma categoria a parte. Ele também pertece a JR, mas o preço é totalmente diferente.  Ele faz apenas paradas em algumas cidades, geralmente as maiores. Em alguns casos, dependendo de aonde você deseja ir, o preço de uma passagem de shinkasen é quase o preço de uma passagem de avião.
No Japão temos três tipos de trens bala, o Kodama, o Hikari e o Noozomi. Sendo o Kodama o mais “lento” e o Noozomi o mais rápido (não o que o mais lento seja realmente lento, mas o modelo do trem  mais novo é o Noozomi).  Como disse, o preço o ticket é um pouco salgado, mas o conforto e a facilidade são ótimas. Comprando um bilhete, você pode escolher a hora da sua viagem, pois geralmente um trem sai a cada meia hora. E os preços dos tickets também são relativos aos acentos escolhidos. Existe o reservado e o não reservado. Os tickets para acentos reservados são em vagões especiais e custam mais caros, pois o seu lugar é garantido na viagem. Já os não reservados são mais baratos e indicam que você pode se sentar em qualquer lugar. Isso também significa que você também pode fazer a viagem em pé, se todos os acentos estiverem cheios.  


Trem bala - noozomi. Visão de dentro do trem. Bilhete da minha viagem Tokyo-Osaka.

Como nos aviões, existem funcionários que passam vendendo comida. E o mais interessante é que eles vendem comidas de típicas dos trechos que o shinkasen percorre.
O monorail (monotrilho – monoreru – モノレール) é bem comum por aqui. Ele é um trem suspenso, em que o trilho fica situado em plataformas. Ele é um transporte mais limitado, não indo a muitos lugares e também o preço da passagem é mais caro que o dos trens e metrôs.  Se não me engano, estão querendo construir um monotrilho no Rio para a copa de 2014... Vejamos se isso acontece...

Quando se chega a uma estação de trem, existem as máquinas que você deve comprar o seu bilhete. Acima dessas, existe um mapa com os nomes das estações e o valor que deve ser pago para se chegar a estação desejada. O cartão pré ou pós-pago substitui a compra do bilhete.  Nesse caso, a máquina debita automaticamente o valor da passagem do mesmo. No entanto, caso você compre o ticket errado,  existem máquinas em que você pode fazer o ajuste do valor da passagem.


Cartões de trem e ônibus, pré-pago (icoca) e pós-pago (pitapa). Fotos das catracas das estações de trens e metrôs.

 Como comentei algumas vezes, nem todos os mapas das estações tem os nomes das estações em inglês, por isso, as vezes, se você não sabe nada de japonês, a sua vida pode se tornar meio complicada.

Estação de Akihabara em Tokyo. Estação de JR em Osaka, vista de cima. Estação de Minami Senri (perto do meu antigo dormitório)


Já o bilhete de shinkansen pode ser comprado em máquinas em separado ou em pontos específicos das estações de JR.
Quanto ao horários, os trens costumam parar um pouco depois da meia noite e só voltam a andar depois da cinco da manhã. Sendo assim, se você perder o último trem, sua única opção para voltar para casa é pegar um táxi.

3)  Táxi e outros

Táxis no Japão são bastante caros. Não é algo que se pode usar sempre.  Interessante é que aqui, os carros são equipados para abrir e fechar a porta de acordo com o comando do motorista. E outra curiosidade é que você pode pagar o táxi com o cartão de crédito.
Outro meio de transporte bastante usado pelos japas é a bicicleta. No caso dos estudantes estrangeiros, quase  99% possuem bicicletas. É um dos meios mais simples e baratos de se locomover.
Ao comprar uma bicicleta, você deve registrá-la. Esse registro é feito pela loja, mas é ligado a prefeitura em que você reside. Um número de identificação irá ser fixado a sua bicicleta, indicando que ela possui um dono. Em caso de acidentes e roubos, sua bicicleta poderá ser facilmente identificada por esses número.
Muitos policiais, de tempos em tempos, checam esses números em bicicletas nas ruas ou mesmo parando seus motoristas, para averiguar se as bicicletas foram roubadas ou se existe algo de errado com elas. Aqui também é obrigatório o uso de “buzinas” e faróis. E nada de dirigir bicicleta bêbado. Se você beber, deve ir para casa a pé, pois se você for parado por um policial dirigindo a sua magrela bêbado, isso pode te causar problemas.


Minhas experiências.

No começo, tinha muito medo de andar de trem. Devido ao meu péssimo japonês, sempre tive medo de me perder durante as baldeações e ir para em lugares desconhecidos.  Uma vez, isso aconteceu quando estava em Tokyo. Tinha ido a um show de J-rock no Tokyo Dome e estava voltando para meu hotel.  Saí da estação mais próxima e peguei um trem para Asakusa, aonde estávamos hospedados. Nesse trajeto, devia fazer baldeação em uma estação e assim o fiz. Como estava sozinha, quis confirmar com um funcionário da estação que eu estava fazendo o caminho certo. Mostrei a ele um papel em que estava anotado meu trajeto. O senhor me olhou e mandou eu voltar para o trem que eu tinha acabado de sair. Eu me assustei, mas fiz como ele me dissera. Acabei indo parar na estação de Shibuya, uma das maiores estações de Tokyo. Eu me desesperei, pois estava sozinha, sem saber falar quase nada de japonês, numa estação enorme. Para aumentar meu desespero, todas as áreas de informações estavam fechadas devido ao horário (passavam das 9 da noite).  Diante de tudo isso, juntei forças e parei um senhor para pedir informações. Veja bem, eu fiz algo que não é nada comum para um transeunte (fora que aqui há a fama de que as pessoas de Tokyo são chatas e não gostam de ser incomodadas, mesmo quando você quer pedir uma informação)... O que o desespero não faz? O senhor não sabia muito inglês, mas ele foi solidário, saindo de seu caminho para me levar até a plataforma em que eu deveria pegar o trem de volta (que por sinal, era do lado oposto que nós estávamos). No final, eu consegui chegar ao meu hotel!

Bem, como não tenho carteira internacional e nem dinheiro para comprar um carro, eu sou adepta aos ônibus e transportes ferroviários. Não tenho reclamações sobre eles. No Brasil, depender de transporte público é quase um suplício, pois com o nosso péssimo sistema de transporte, estar nos lugares de acordo com seu próprio schedule pode ser quase um desafio. Isso sem contar o transito. Nesse ponto, a eficiência japonesa nos meios de transporte é maravilhosa. Você pode marcar algo sem o risco de se atrasar por causa que o ônibus se atrasou! O único problema é quando chove e você sente falta do seu carro para te levar até a porta da sua casa.
Como relatei, os trens terminam seu funcionamento por volta da meia noite e meia, por isso todos se policiam para não perder o último trem (shuuden - しゅうでん - 終電). Já passei por várias situações, nesses dois anos, em que tive que sair correndo, que nem uma louca, para não perder o último trem e ficar na rua a noite toda. E nesse ponto, não só eu, como vários japoneses se desesperam e saem atropelando todo mundo para entrar no trem. 
Acho que a única exceção a tudo isso é Okinawa. Como comentei no post anterior, Okinawa só possui monorail.  Os ônibus por lá tem tabelas de horários, mas são muito espaçados, de maneira que se você perde o horário, leva-se no mínimo 30 minutos para pegar outro ônibus. Por isso, muitas pessoas optam por “alugar” táxis para andar por Okinawa. Os motoristas são bem compreensíveis e tentam fazer um preço mais “amigo” para os passageiros.

Já tive a experiência de viajar de shinkansen e é maravilhosa. Nessa viagem, eu fui de Tokyo a Osaka (aproximadamente 500km) em duas horas. É quase como andar de avião, mas sem sair do chão. Os vagões são equipados com wifi, tomadas e bancos super espaçosos e confortáveis. 

Acho que pude falar um pouquinho mais sobre um fato do cotidiano japonês. Espero que tenha sido interessante.
  

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Okinawa, o Japão não tão japonês...


       Antes de contar sobre a viagem, vamos ter uma breve introdução sobre a província (afinal, meu blog é um blog que incentiva o conhecimento também).

Mapa do Japão, com Okinawa bem ao Sul.


     Okinawa ( 沖縄) é o conjunto de ilhas mais ao sul, contando com 169 ilhas, que formam o arquipélago de Ryukyu. A capital, Naha, é localizada em uma das maiores ilhas, a ilha de Okinawa.
     Historicamente falando, Okinawa, nos tempos do shogunato, era um reino independente. Por isso sua cultura e algumas de suas características são um pouco diferentes da cultura japonesa em geral. Okinawa passou a ser mais “ligada” o resto do país depois da era Meiji. Lá se fala um dialeto próprio, que é de difícil compreensão por alguns japoneses (para mais informações sobre Okinawa, veja aqui).
      Por essas diferenças, já observei uma certa "divergência" entre  japoneses em geral e as pessoas de Okinawa. Alguns residentes de Okinawa chegam a dizer que não se consideram japoneses e sim Okinawanos (como se ainda Okinawa fosse independente). Já os japoneses daqui dizem que os okinawanos são estranhos, pelo estilo de vida e comportamento. Esse tipo de sentimento não é muito recorrente, mas ainda existe entre algumas pessoas.

      A viagem

       Okinawa para mim sempre foi um sonho. Toda vez que  ouvia falar do Japão, pensava “quero ir a Okinawa”. Essa curiosidade, no começo, surgiu por causa de alguns doramas como “Ruri no Shima” e também por causa do cantor de J-rock, Gackt. No caso do Gackt, ele contava muitas histórias sobre sua infância e como era o local, assim, tive vontade de ver com os meus olhos o lugar que ele descrevia com tanto entusiasmo.   Em Ruri no shima,  eles mostram o cotidiano de uma ilha em Okinawa, com uma vila pequena e pessoas sorridentes e alegres.

Cantor de J-rock, Gackt, tocando shamisen, instumento típico de Okinawa. Novela Ruri no  Shima. Ambos me inspiraram a querer conhecer Okinawa!

       Quando vim ao Japão, pensei que esse desejo de conhecer Okinawa logo seria realizado, mas levei dois anos até ir para lá. Isso porquê a passagem de avião até essas ilhas não é nada barata e segundo, a falta de tempo era um problema. No entanto, graças a uma companhia de baixo custo, Peach, pude realizar esse sonho. Pude pagar menos da metade do preço normal e em um final de semana, fui a Okinawa!
    Fomos apenas para a ilha de Okinawa. Tinhamos algumas informações sobre o local, mas confesso que tudo foi bem diferente do que eu esperava. Eu tinha uma visão totalmente diferente do local. Não me julguem, mas pensava que a cidade seria uma mistura de Japão e Havaí. No entanto, não foi isso que encontrei. E também, associava Okinawa com o litoral brasileiro, em que bastaria eu andar um pouco e encontria uma praia bela e dezenas de pessoas se divertindo na mesma. Doce ilusão...
   Primeiro, como fui no outono (época mais fria – por isso as passagens estavam tão baratas), o local em si não estava tão movimentado. Segundo, Naha em muito me lembrou uma cidade praiana do interior do Nordeste. Tem uma cara de menos “desenvolvida” do que os outras provinciais japonesas.  A primeira vista, nada chama tanta atenção.  Mas ao saírmos para explorar o local, descobrimos coisas bem legais.

Chegada em Naha.

   
   Existem muitas plantações em Naha. Vi muitos canaviais e plantações de dragon fruit. Sim, Okinawa tem cana-de-açúcar, mas de uma variedade diferente da existente no Brasil. A cana de lá é mais fina, menor e menos doce.  
    A dragon friut é produzida por uma espécie de cactos e interiormente lembra um maracujá. No entanto, o gosto não se assemelha em nada.   Outra coisa bem tradicional de Okinawa é a imo (ou batata doce havaiana), uma espécie de batata doce roxa.  Lá eles fazem muitos doces com ela. É bem gostosa.
    Como o clima da ilha é diferente (mais quente que o resto do Japão), muitas frutas podem ser cultivadas lá, como banana, goiaba, maracujá, entre outras.

Imo (batata doce roxa), Kit Kat feito de imo, cana-de-açúcar de Okinawa e dragon fruit.

  Entretanto, Okinawa tem um grande problema: transporte. Existe apenas uma linha de trem por lá, o monorail, que corta apenas o centro de Naha. Para ir para a maioria dos pontos turísticos, você deve usar ônibus ou carro. Como não tenho carteira de motorista internacional, tive que me virar com ônibus. Por isso, essa viagem foi um grande desafio. Ônibus são escassos e demoram a passar (acho que estou acostumada a eficiência do sistema do resto do Japão).
   Vou relatar o meu drama quanto ao transporte. No segundo dia de viagem, resolvemos ir a praia de Odo. Segundo as instruções do guia, pegamos o ônibus para a tal praia. Chegamos no meio do nada, duas horas depois. Estava na hora do almoço e não tinha nenhum lugar para comer. Tivemos que voltar uma parte do caminho até achar um lugar para fazer a refeição. 

Pratos típicos  e bebidas de Okinawa. Bastante carne de porco na alimentação.
   
    Depois disso, fomos informados que a praia de Odo era muito mais longe do que imaginavamos e não era muito boa para banho, apenas para surf e mergulho. Tivemos que pagar um táxi que nos levasse a outra praia, Mibaha beach (que era mais longe que a primeira e ficava no meio no nada também). Aproveitamos a tarde lá. O local é lindo, com água cristalina e uma indescritível paisagem.

Praia de Mibaha.

  Isso me fez entender o motivo da maioria dos pacotes turísticos oferecer o aluguel de carros. Como já ressaltei, infelizmente, tudo é muito longe. Sendo assim, um carro é muito útil para se visitar os locais.
    Tivemos a oportunidade de visitar o castelo de Okinawa também,  Shuri Castle ( しゅりじょう -首里城).  É um lugar lindo! Acho que de todos os castelos que tive a oportunidade de visitar, esse foi o meu favorito.  As cores e estrutura são diferentes dos castelos japoneses comuns, pois Shuri Castle tem muita influência chinesa.

Shuri Castle. Muita influência chinesa presente na decoração.


   Outro ponto turistico bem legal é o Okinawa World. Lá, você encontra um pouco de tudo sobre Okinawa, comidas, animais, plantas, apresentações, artesenato.  Visitei pela primeira vez uma caverna. Foram quase dois quilometros de uma bela construção da natureza.
Okinawa World. Foto da caverna e apresentação de Taiko.
   No Okinawa World tive oportunidade de tomar suco de goiaba, maracujá e suco de Hibiscus! E finalmente, assisti uma apresentação de um grupo de taiko tradicional de Okinawa. Por gostar muito de taiko, sou suspeita, mas a apresentação conseguiu me passar um pouco da alegria e orgulho que o povo de Okinawa sente por sua cultura.


  Foi uma visita muito curta, apenas dois dias, mas que foram capazes de deixar uma grande impressão sobre o lugar. Em suma: em Okinawa encontrei  japoneses sorridente, amistosos, com um estilo de vida menos sério e regrado que os japonês em geral... Isso me fez sentir um pouco como em casa... Por isso, recomendo a qualquer um que viage a Okinawa, é um lugar que vale mesmo a pena conhecer!